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Serialismo e Dodecafonismo: A Revolução Musical do Século XX
Introdução
No início do século XX, a música clássica passou por uma transformação profunda com o surgimento de técnicas de composição que romperam com as convenções tradicionais. Entre essas inovações, destacam-se o dodecafonismo e, posteriormente, o serialismo, que redefiniram os paradigmas da composição musical e abriram novos horizontes para a expressão artística. Neste artigo, exploraremos essas técnicas em profundidade, sua aplicação prática em composições e arranjos, e como elas influenciam não apenas a música clássica, mas também o jazz e outros gêneros musicais.
O Que é Dodecafonismo?
O dodecafonismo (também chamado de "técnica dos doze tons") é um método de composição desenvolvido pelo compositor austríaco Arnold Schoenberg no início do século XX. Essa técnica busca abolir a hierarquia tonal tradicional, em que uma nota central (a "tônica") organiza todo o sistema harmônico. Em vez disso, o dodecafonismo utiliza as 12 notas da escala cromática de maneira igualitária, criando uma nova abordagem que evita a tonalidade tradicional.
Princípios do Dodecafonismo:
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Criação de uma Série de 12 Tons: A base do dodecafonismo é a criação de uma série que contenha as 12 notas da escala cromática, sem repetição, até que todas as notas tenham sido tocadas. A ordem dessas notas é definida pelo compositor e é chamada de série dodecafônica ou linha dos 12 tons.
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Transformações da Série:
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Forma Original: A série na ordem original composta.
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Retrogradação: A série tocada de trás para frente.
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Inversão: Todos os intervalos da série são invertidos (se um intervalo sobe, ele desce, e vice-versa).
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Retrogradação da Inversão: A inversão tocada de trás para frente.
Essas variações multiplicam as possibilidades de uso da série, permitindo maior flexibilidade e criatividade.
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A série pode ser manipulada de várias maneiras para gerar variações temáticas e harmônicas:
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Igualdade entre as Notas: No dodecafonismo, nenhuma nota é mais importante que outra. Isso quebra a ideia de "tônica" ou "dominante" e cria uma sensação de atonalidade, onde todas as notas têm o mesmo peso.
O Que é Serialismo?
O serialismo é uma evolução do dodecafonismo. Enquanto o dodecafonismo organiza apenas as alturas das notas em uma série, o serialismo expande o conceito de série para outros parâmetros musicais, como:
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Ritmo: Organização das durações das notas em uma série.
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Dinâmica: Controle das intensidades (pianíssimo, forte, etc.) em uma sequência pré-determinada.
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Timbre: Escolha de diferentes instrumentos ou combinações instrumentais com base em uma série.
Essa abordagem, conhecida como serialismo integral, foi desenvolvida por compositores como Pierre Boulez e Karlheinz Stockhausen, que levaram a ideia de organização sistemática para todos os aspectos da composição. O resultado é uma música altamente estruturada, mas que oferece infinitas possibilidades criativas.
Impacto e Legado
As técnicas dodecafônicas e serialistas tiveram um impacto profundo na música do século XX. Schoenberg, juntamente com seus alunos Anton Webern e Alban Berg, formaram a chamada Segunda Escola de Viena, que influenciou gerações de compositores ao redor do mundo.
Compositores como Igor Stravinsky, Dmitri Shostakovich e até músicos de jazz como Dave Brubeck e John Coltrane exploraram elementos do dodecafonismo em suas obras. No jazz, o uso de séries de tons e a experimentação com atonalidade foram integrados a arranjos e improvisações, especialmente no contexto do jazz modal e do free jazz.
Como Explorar Essas Técnicas em Composições e Arranjos?
Aqui está um passo a passo prático para aplicar o dodecafonismo e o serialismo em suas composições ou arranjos:
1. Crie uma Série de 12 Tons
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Escreva as 12 notas da escala cromática sem repetição.
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Exemplo: C, D, E, F♯, G, A♭, B♭, A, E♭, G♯, F, B.
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Essa será sua linha dodecafônica.
2. Explore as Transformações da Série
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Experimente usar a forma original, a retrogradação, a inversão e a retrogradação da inversão.
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Combine essas formas para criar contrastes e desenvolvimento temático.
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Exemplo: Use a forma original na melodia e a inversão no acompanhamento.
3. Organize Outros Parâmetros
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Ritmo: Atribua valores rítmicos às notas da série (ex.: notas longas para as notas graves e curtas para as agudas).
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Dinâmica: Planeje uma sequência dinâmica (ex.: p, mf, f, ff, diminuindo para p novamente).
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Timbre: Experimente diferentes instrumentações para cada nota da série, criando texturas únicas.
4. Aplique ao Jazz
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Use a série como base para improvisações. Os solistas podem explorar a sequência de notas dentro do contexto harmônico de uma progressão de acordes.
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Integre o serialismo ao planejamento de arranjos orquestrais em big bands, criando variações rítmicas e dinâmicas a partir de séries.
5. Componha em Camadas
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Divida a série entre diferentes instrumentos ou vozes. Por exemplo, em um quarteto de cordas, cada instrumento pode tocar uma parte da série.
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Experimente sobrepor séries em diferentes formas (uma na forma original e outra na retrogradação) para criar polifonia complexa.
6. Trabalhe a Expressividade
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Apesar do rigor estrutural do serialismo, busque maneiras de integrar expressão emocional. Alban Berg, por exemplo, combinou o dodecafonismo com elementos líricos e românticos.
Exemplo Prático: Miniatura Dodecafônica
Aqui está um exemplo básico para entender como usar o dodecafonismo:
Série de 12 Tons:
C, D, E, F♯, G, A♭, B♭, A, E♭, G♯, F, B
Estrutura:
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Introdução: Apresente a série na forma original em um instrumento solo.
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Desenvolvimento: Use a retrogradação no acompanhamento e adicione a inversão na melodia.
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Conclusão: Combine a retrogradação da inversão em um tutti para finalizar a peça.
Concluindo
O dodecafonismo e o serialismo representam uma revolução na forma de pensar a música, rompendo com as convenções tonais e abrindo caminho para uma liberdade criativa sem precedentes. Incorporar essas técnicas em suas composições ou arranjos pode ser desafiador, mas o resultado é uma música rica, complexa e inovadora. Independentemente de você estar compondo para orquestras, grupos de câmara ou mesmo explorando ideias no jazz, essas abordagens oferecem ferramentas poderosas para expandir sua linguagem musical.
A música, afinal, é uma arte em constante evolução. Assim como Schoenberg e seus sucessores exploraram o desconhecido, você também pode levar sua criatividade para novos horizontes.
Bibliografia
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Schoenberg, Arnold. Style and Idea: Selected Writings of Arnold Schoenberg. University of California Press, 1984.
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Griffiths, Paul. Modern Music and After: Directions Since 1945. Oxford University Press, 2010.
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Whittall, Arnold. Serialism. Cambridge University Press, 2008.
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Taruskin, Richard. The Oxford History of Western Music: Music in the Early Twentieth Century. Oxford University Press, 2005.
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Morgan, Robert P.. Twentieth-Century Music: A History of Musical Style in Modern Europe and America. W.W. Norton & Company, 1991.
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Boulez, Pierre. Orientations: Collected Writings. Harvard University Press, 1986.
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Kostka, Stefan. Materials and Techniques of Twentieth-Century Music. Pearson, 2006.
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